Rodrigo Fernandes
Dizem que os pássaros conseguem pressentir os acidentes naturais antes que eles aconteçam. Aos primeiros sinais (invisíveis) de um terremoto, por exemplo, eles migram para um local livre do perigo, longe do desastre e da ameaça. Pensei nisso hoje, ao notar o fato de que algumas pessoas, como os pássaros, conseguiram pressentir que o PT seria um grande desastre para o país – e foram buscar abrigo em ninhos mais seguros.
Lembrei então de um tempo em que, ingênuo, me vi refém de uma esperança que se transformou em medo. Tinha apenas 14 anos e muitos sonhos, entre os quais ver o Brasil governado por um trabalhador. Lula era o nome dele. O barbudo que assustava os banqueiros surgia para muitos como o salvador da gente amesquinhada pela corrupção, a fome, a falta de escolas e pela ausência de cidadania. No Rio de Janeiro, onde morava, carreguei estrela no peito e bandeira vermelha nas eleições de 89, somando-me aos milhões que acreditavam na mudança. E ao ver os debates na TV, descobri minha vocação. Nascia em mim a paixão pela política. Mas perdemos as eleições para o caçador de marajás.
A esperança se renovaria com as eleições presidenciais de 94. O torneiro mecânico dessa vez enfrentaria as elites personificadas no catedrático FHC. Seria, porém, outro naufrágio eleitoral, pois o sucesso do Plano Real havia transformado Fernando Henrique no São Jorge que esmagara o dragão inflacionário. Em 98 a história se repetiria, com uma derrota fragorosa no primeiro turno.
Eis que afinal, em 2002, o Lula repaginado pelo marketing de Duda Mendonça surpreendeu nas urnas. Era a vez do social, dos trabalhadores, pensei. A vez dos descamisados miseráveis que comiam fruta podre e sonhavam com um Brasil de três refeições ao dia.
Morava já no Acre, e exercia o cargo de secretário-geral do PPS de Rio Branco. O exercício da política me tornara menos ingênuo, capaz de reconhecer méritos antes ignorados no governo FHC. E a identificar os primeiros indícios de que as coisas iam mal com o governo Lula.
O tempo me foi confirmando o equívoco da crença antiga. O Fome Zero foi um fiasco. Não adiantou que a musa Gisele Bündichen fizesse a primeira grande doação individual para os pobres do novo presidente. Falou-se em morosidade e incompetência na condução do programa mais badalado no período eleitoral. Falou-se em morosidade e incompetência nos ministérios, em incompetência e muita morosidade em todo o governo. Até que vieram as denúncias de corrupção.
Com os juros altos, os bancos começaram a ter lucros astronômicos, e começaram a bater os primeiros recordes de rentabilidade. Enquanto isso os empresários reclamavam da carga tributária – a mais alta de toda a história do país – e as filas de desemprego aumentavam a angústia de milhares de famílias. Lembrei de uma sabatina no Jornal Nacional em que o candidato petista criticou os juros e prometeu combatê-los com base no que ocorrera nos Estados Unidos. Com menos juros e impostos, prometeu, a economia voltaria aos trilhos.
Surgiram, no início do mandato, pequenos sinais do grande perigo que viria. A primeira greve enfrentada pelo ex-sindicalista no comando do país, protagonizada por agentes da Polícia Federal, fora punida com corte no ponto dos grevistas. O governo dos trabalhadores não deu refresco a quem reivindicava reajuste salarial. E em seguida os grandes investidores foram isentos da CPMF (o “imposto do cheque”), que Lula tenta prorrogar até 2010. Outros indícios de falcatruas desaguaram no corredor do mensalão, onde sacolas com dinheiro eram entregues a deputados medíocres em troca de apoio na Câmara. E o presidente nunca soube de nada.
Mas antes mesmo do mensalão e dos sanguessugas, eu já pousara em outro ninho político, cismado com tantas evidências de que o desastre viria. Como os pássaros, havia pressentido o terremoto petista que derrubou a Ética e tenta soterrar a Democracia.
Rodrigo Fernandes é presidente municipal do PSDB do Acre
terça-feira, 23 de outubro de 2007
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Um comentário:
Creio que nem todos saibam mais a cúpula do governo esta com receio que algumas pessoas façam algum tipo de manifestação ao presidente “LULA”, lembramos que o Governo do Estado só esta se preocupando em maquiar a saída de Xapuri em quanto a população esta vivendo a espera do pleito eleitoral pois e a data que o Governo vai trabalhar no município para tentar eleger o seu candidato a prefeito.
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