quarta-feira, 14 de março de 2007

Prejudicial ao estilo

Archibaldo Antunes, jornalista

Não é fácil exercer o ofício de advogado do diabo. Para atacar o prefeito de Xapuri, Vanderley de Lima, o radialista Raimari Cardoso (raimari.blogspot.com) faz uma defesa contenciosa e envergonhada do ex-prefeito Júlio Barbosa, do PT. O irônico do texto é a intenção, mal-disfarçada, de apresentar o desonesto como probo, vender o velho como se novo fosse.

O escriba diz, por exemplo, que “de certo mesmo, só a convicção que muita coisa tem que mudar para que o futuro seja diferente do que aí está”. Ora, o PT de Xapuri teve oito anos de mandato para mudar o que estava errado, e assim mostrar à população como se administra com zelo e eficiência. Mas não foi isso o que se viu, já que há denúncias de improbidade que poderiam ter se multiplicado, não fosse um incêndio nas dependências da prefeitura.

Raimari diz também que “Chegamos a um ponto em que mesmo reconhecendo que a administração que antecedeu a esta não foi nenhuma maravilha, somos obrigados a afirmar que em muitos aspectos ela deixou saudades”. Surpreende que num sujeito que se intitula “gestor de políticas públicas” seja tão pequeno o nível de exigência quanto a um administrador municipal. Outro detalhe é que ele não enumera as saudades deixadas por Júlio Barbosa. Deveria indagar dos moradores que não receberam nenhum benefício se essa ausência também lhes parte o coração. O que afirma em seguida em defesa do petista (“É bem verdade que a administração, do ex-prefeito Júlio Barbosa, não deixou a cidade lá essas coisas”) ilustra o que digo.

“Foram, sem sombra de dúvidas, os melhores anos vividos pelo humilde e trabalhador povo desta terra dentre muitos outros de sofrimento”, diz em relação aos oito anos de petismo. O senhor Raimari é a consciência e a voz do povo sofrido de Xapuri. Não os consulta naquilo que lhes parece melhor ou pior, não ouve opiniões para redigir suas matérias, não visita suas casas – simplesmente sabe o que é melhor para todos. E PT saudações.

Em seguida volta à autocrítica, dizendo que “no mandato seguinte (do PT), como é comum ocorrer, em se tratando de administração pública, permitiram-se alguns descuidos, ocorreram desgastes, acomodação política, disputas de poder, envaidecimentos, vista grossa do Governo do Estado e centralização das decisões”. Ora, se tudo isso ocorreu no segundo mandato do PT, o que diabos poderia acontecer num terceiro?

Não gostaria de estar na pele do senhor Raimari. A defesa do que é ruim lhe prejudica a coerência, o bom senso e o estilo.

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