Diogo Mainardi, da Veja
Gilberto Gil me considera o Vavá da imprensa. Ele declarou à Playboy que me assiste todo domingo no Manhattan Connection, porque me acha "bonito (risos), mesmo dizendo essas coisas todas". Para Gilberto Gil, sou inimputável como Vavá. Ninguém pode me responsabilizar pelo que eu digo. Sou apenas, como já cantou o ministro, um "moreno com os olhinhos brilhando", um "bezerrinho", um "homem de Neandertal" de "porte esperto, delgado".
– Empresta dois milhão para mim?
Se Vavá é o Mainardi do lobismo lulista, se ele é o "bocadinho de amor" dos bingueiros de Campo Grande, se sua falta de cultura é usada como um salvo-conduto para livrá-lo da cadeia, suspeito que o fino intelectual do bando seja o compadre de Lula, Dario Morelli Filho. Ele deu uma amostra de sua sagacidade argumentativa num telefonema grampeado para o bingueiro Nilton Servo:
– Quando começa a morrer juiz, todo mundo fica preocupado. Mas não tem uns que têm que morrer mesmo?
Sei perfeitamente que, com meu "corpo eterno e nobre de um rei nagô", eu poderia parar de me importunar com assuntos desse tipo, mas sempre me espanto com as estratégias de acobertamento da imprensa lulista. VEJA noticiou que Vavá levou um empresário ao Palácio do Planalto em 19 de outubro de 2005. Três semanas depois, a IstoÉ Dinheiro fez uma reportagem de capa sobre "O drama da família Lula da Silva", em que os parentes do presidente atribuíam a parada cardíaca de Vavá às denúncias contra ele. Na reportagem, Frei Chico defendia o irmão lobista da seguinte maneira:
– O Vavá sempre foi uma espécie de assistente social não remunerado. Ele procurou ajudar as pessoas. Está na cara que ele nunca levou vantagem desses empresários.
Frei Chico usa o codinome Roberto em seus telefonemas para Vavá. Vavá fala sobre máquinas de terraplanagem com o presidente da República. E o "filho do homem" é uma figura recorrente nas conversas dos bingueiros. Trata-se daquele filho? Trata-se daquele homem? Nilton Servo foi grampeado dizendo:
– O Dario está vindo para cá, entendeu? Para Campo Grande. Está vindo ele e está vindo o filho do homem.
E acrescentou:
– Nem o Vavá sabe disso.
Vavá é para ser usado. Vavá é um lambari. Vavá é um ingênuo. Tanto que o filho do homem conseguiu passar-lhe a perna, aliando-se ao compadre de Lula para roubar-lhe o cliente bingueiro. O mesmo cliente bingueiro que, referindo-se a um empréstimo milionário do BNDES para uma fábrica de papel higiênico, serviu-se de uma elegante onomatopéia:
– Pá, pá, pá. Pum!
Eu, "a coisa mais linda que existe", me pergunto quem é o filho do homem e se a PF rastreou os telefonemas de Dario Morelli nos dias que antecederam a tal viagem a Campo Grande. Eu, "motocross das estradas da ilusão", me pergunto também se o homem da mala no caso do dossiê, Hamilton Lacerda, ex-secretário de Zeca do PT em Mato Grosso do Sul, teve algum contato com esses bingueiros em setembro de 2006.
Só para terminar: o que eu mais aprecio em Gilberto Gil também é seu aspecto físico.
domingo, 17 de junho de 2007
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