segunda-feira, 9 de abril de 2007

O alquimista Nilson Mourão

Archibaldo Antunes, jornalista

O deputado federal Nilson Mourão, do PT, que já celebrou a prisão de uma jornalista inglesa por ter se recusado a revelar sua fonte, contestou matéria de Veja desta semana sobre o desmatamento no Acre. Segundo a revista, o companheiro Jorge Viana escondeu dados do Imazon sobre a devastação da floresta no período em que governou o Estado. O repórter Leonardo Coutinho, baseado em levantamento do instituto, revela que nos últimos anos foi derrubado o equivalente a 14 estádios de futebol por hora de floresta nativa.

A réplica de Mourão à reprodução da matéria foi publicada no blog do jornalista Altino Machado (www.altino.blogspot.com). O deputado petista, que já rasgou um exemplar de Veja no plenário da Câmara e acha que jornalismo é caso de polícia sempre que o noticiário é desfavorável ao governo, recorreu a sofismas para defender o ex-governador.

Sofisma, para quem não lembra, é um raciocínio com ares respeitáveis, mas com intenções cafajestes (algo como um deputado que vive de pregar a moralidade e recebe mensalão). Mourão diz, por exemplo, que a matéria induz o leitor a pensar que em oito anos de petismo não houve cuidado com a floresta e que as ações do governo não contribuíram com a preservação dos recursos naturais. Nada mais enganoso. Os dados, por si, mostram que houve negligência com o meio ambiente, e o ato de escondê-los da população só agrava a culpa de quem permitiu o descalabro.

Em seguida, segundo Machado, Nilson Mourão argumenta que “o jornalista afirma apenas parte da verdade, ou seja, que a área desmatada no Acre aumentou. Meia verdade porque a área desmatada aumentou não só no Acre, mas em toda Amazônia, no mesmo período citado”.

Essa pérola do raciocínio indutivo revela que a ciência de Mourão é a mesma dos alquimistas – aqueles lunáticos que tentavam, em vão, transformar chumbo em ouro. Primeiro porque dizer que aumentou a área desmatada no Acre não é parte de uma verdade maior, mas uma verdade em si, cuja comprovação foi feita pela leitura do satélite. Segundo porque a outra verdade – a de que o desmatamento aumentou em toda a Amazônia, e não só no Acre, – não invalida a primeira. E terceiro porque, mesmo que o ritmo do desmatamento no Acre tenha sido menor do que no resto da Amazônia brasileira, deve ser mantida a responsabilidade de quem obteve lucros políticos com a balela da “florestania”.

Em estilo obtuso, Mourão tenta explicar ainda as diferenças metodológicas entre o levantamento feito pelo Imazon e o realizado pelo Inpe. Gira em torno da tecnicidade da questão para afinal dizer que a disparidade de um por cento entre os dois estudos é fruto da precisão do primeiro, que não levou em conta as “áreas regeneradas”. Tem-se a impressão que o problema está na metodologia, na ciência, nos cientistas ou na imprensa – e não na permissividade com as motoserras.

A continuar sendo defendido dessa forma, em breve o ex-governador vai precisar de um advogado.

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