quarta-feira, 18 de abril de 2007

Prefeitura faz planejamento pedagógico para melhorar educação rural


“Na zona rural aluno não faz corpo mole. Todas as crianças freqüentam a escola”. A frase do professor Raimundo Carlos de Oliveira Cunha, 33 anos, impressiona por contrariar os índices de evasão escolar do país. Segundo dados da Fundação Lemann, especializada em gestão escolar, no Brasil 31 jovens abandonam a sala de aula por hora. A média é a maior da América Latina.

Com 12 anos de profissão, Carlos é um dos 25 professores que participam de planejamento pedagógico realizado pela prefeitura de Xapuri, via Secretaria Municipal de Educação (Semed). Se evasão não é problema grave na zona rural, os contratempos se acumulam sob outras formas.

O Encontro de educadores começou na segunda-feira, na Casa Branca, antiga Intendência Boliviana na cidade, e se estenderá até sexta, dia 20.

Carlos leciona para 18 alunos do ensino básico de uma escola localizada no seringal Lua Cheia. Ali as crianças levam até duas horas para assistir às aulas. Ele acredita que o planejamento vai facilitar as atividades pedagógicas, já que os professores poderão aprender novas técnicas educacionais. “Planejar aprimora os conhecimentos”, acredita.

A professora Milene Pereira, 23, concorda com o entusiasmo do colega. Ela trabalha com 14 crianças no seringal São Miguel, a três horas da cidade. Alguns alunos de Milene vão para a escola a cavalo, outras a pé. Nesse caso, o percurso pode levar até duas horas.

“Esse planejamento vai melhorar a base de conhecimento dos professores, e isso se refletirá no nosso desempenho em sala de aula”, entusiasma-se.

Acesso é sempre problema
O acesso dos professores aos locais de trabalho é um dos muitos problemas enfrentados por quem sai da cidade para lecionar na zona rural. Apenas 30% deles vivem nas comunidades onde lecionam, segundo a coordenadora administrativa do ensino rural da Semed, Josilene da Silva Gondim.

Ainda que falte transporte para a equipe que atua nos seringais e projetos de assentamento, o trabalho não deixa de ser feito, garante Josilene. Ela conta com uma equipe reduzida cuja tarefa é dar suporte aos professores. Gilda Maria Pinto de Assis integra o trio de supervisoras que chegam a passar até 48 horas dentro de um barco.

“É trabalho difícil e exige força de vontade”, explicou Fabiana Pinheiro do Nascimento, integrante da equipe.

Vanilda Pereira Luz, outra supervisora do ensino rural, conta que no verão, com a seca do rio, o acesso às escolas é ainda mais difícil. Em alguns pontos é preciso arrastar a canoa. “Em outros somos obrigadas a caminhar até dez horas dentro da mata”, garantiu.

Nessas circunstâncias, entregar material e merenda escolar se transforma num problema logístico. Cabe aos professores a tarefa de ir à cidade para abastecer as despensas ou apanhar livros. Em alguns casos, a alimentação dos alunos não tem sido suficiente para um mês, o período estabelecido pela Semed para o fornecimento dos estoques.

“Com o planejamento, vamos corrigir isso e ainda melhorar a qualidade da merenda destinada à zona rural”, prometeu a diretora do ensino básico de Xapuri, Valcidene Soares Menezes. Segundo ela, a Semed vai incentivar a plantação de hortas nas escolas para complementação do cardápio estudantil.

Valcidene explica que o planejamento pedagógico resultou da análise dos relatórios fornecidos pelos professores, que trabalhavam desarticulados e sem metas bem delineadas. O objetivo agora é direcionar as ações para um ensino de maior qualidade, disse ela.

O secretário de Educação, Everaldo Pereira, afirmou que a merenda escolar tem recebido toda a atenção da Semed. O tema integra a lista de assuntos a serem tratados no encontro.

No primeiro dia de planejamento, o prefeito do município, Vanderley Viana de Lima (PMDB), visitou os professores na Casa Branca. Ele disse estar animado com a iniciativa. “Sei como a educação é importante porque só pude estudar graças à interferência de minha avó”, contou o prefeito. A mãe, segundo ele, era dependente de álcool e preferia que o filho trabalhasse para cuidar dos irmãos.

Um comentário:

Editor disse...

Criança “educada com qualidade” não anda em pau-de-arara.


Nesses oito anos que o PT governa o Acre, muitos investimentos de ordem material foram feitos na educação. As escolas, a maioria localizadas na capital, sofreram um choque de modernidade arquitetônica, que de fato, causa uma impressão positiva ao olhar despreocupado.

Por outro lado, porém, se assumirmos uma postura mais crítica diante do próprio olhar, mirando mais de perto, veremos o quanto é perigosa a confusão que se faz quando o conteúdo do presente é confundido pela importância menor da embalagem. A qualidade da educação no Acre precisa ser repensada! Será a conclusão a que todos, “de olhos arregalados”, irão chegar.

O governo que findou, apesar de ter todos os instrumentos políticos nas mãos, esqueceu de dar uma identidade própria à rede de ensino. Existem sim, muitas falhas na gestão da Secretaria de Educação que precisam ser evidenciadas. Assim, quem sabe, aquele que as deixou, agora com segunda chance e com a mão na caneta, possa agir para sanar.

O maior débito do “Secretário” é não ter enfrentado a educação com um olhar realmente revolucinário, impactante, arrebatador e semeador, com força de transformar e de plantar idéias, construindo um geração crítica determinada e ativa.

Nossos alunos nunca foram ensinados a transformar “conhecimento” em “ação”. O impacto aos jovens é tão forte que eles já começam a esquecer que são os “guardiões da semente dos sonhos”. Nosso dever é cuidar, a vida inteira se possível, dessa semente. Não é dado ao educador o benefício da desistência.

Muitos educadores, críticos, porém mais tímidos (não falam, só sofrem), reclamam diariamente da dificuldade que sofrem quando tentam superar a blindagem da “prepotência intelectual” da equipe gestora da Secretaria de Educação.

Quem educa, aprende cedo a dar valor à oportunidade. Educador é o que liberta, que faz lembrar sempre que saídas, apesar de difíceis, existem sim. A rede de ensino, para isso, deve vibrar na mesma frequência da comunidade, transformando-se num canal permanente de trocas de boas idéias.

Admitir que a educação venha a ser governada pela economia, sem influenciá-la, não é visão de educador revolucionário e muito menos atende às exigências de sustentabilidade tão corriqueiramente defendida pelo governo.

O bom gestor para a educação será sempre o “educador ideológico” e não o “educador técnico burocrata” que temos visto.
Mas a culpa não é só do governo. A elite intelectual da educação, bastante burocrática por sinal, decidiu parar de bater pestanas, como se ao educador fosse dado o direito de recuar diante da luta. Educação é luta, sempre foi assim e não deve deixar de ser tão cedo. Quanto mais silenciarmos hoje, mais problemas iremos ter que corrigir no futuro.

A Secretaria de Educação, arrogante diante dos próprios equívocos, recusou, por razões políticas, a opinião da maioria dos educadores do Acre. Eles, por sua vez, não insistiram na opinião. Recuaram e meio que sem jeito foram cuidar da vida pessoal. Eu defino o atual modelo de educação do Acre: "mecânico, desestimulante, sem energia e sem brilho. Por fim, para iniciar o debate, levantamos um problema grave da Secretaria de Educação e chamamos seus interlocutores ao debate. Vejam abaixo:
Ontem, denunciamos, com absoluto respeito à verdade, a situação lamentável que nossas crianças da zona rural enfrentam na luta diária para chegar às escolas. O governo que mais gastou dinheiro em toda a história do Acre não lembrou de reservar alguns milhões de reais para garantir uma chegada tranqüila à escola para as crianças da zona rural. Pelo contrário, nossas sementes de sonhos, são obrigadas a enfrentar, além do perigo de morte, a chuva o sol e a poeira. Não está certo! As comunidades exigem providências.


Edinei Muniz