Do blog do jornalista Reinaldo Azevedo
Se, por algum milagre, todos os homens públicos brasileiros decidissem ser honestos —isto é, não roubar (tá, gente, estou falando por hipótese...) —, seria preciso fechar boa parte da imprensa brasileira. O chamado jornalismo investigativo, sem dúvida, faz bem para a democracia à medida que denuncia muita safadeza. Mas também torna a impresa dependente de uma droga: se escasseiam as denúncias, ela fica sem ter o que fazer, burocratiza-se, fica chata. Qual é tese, Reinaldo? É a seguinte: boa parte do jornalismo não sabe mais cobrir questões institucionais, que dizem respeito às liberdades e aos direitos individuais. Temo que uma política conduzida por homens honestos poderia instalar uma ditadura virtuosa no Brasil sem que a tal sociedade civil desse um pio.
Estão aí as duas CPIs do Apagão Aéreo. Parece que ninguém confia muito nelas. Vivemos uma espécie de entressafra das acusações de corrupção — sim, isso passa; os nossos homens públicos estão longe daquela honestidade de que falo no primeiro parágrafo. De todo modo, os temas institucionais continuariam aí, com ou sem lambança, à espera do devido tratamento. Que não vem. Parece que já nos esquecemos um tanto do sentido da liberdade. Estamos sempre atrás de um “crime”. Ou, então, nos perdemos ao garantir a exposição de quantas versões houver de uma história — deixando de dizer, afinal de contas, ao leitor o que é fato e o que é fantasia. Juntam-se a esses dois fatores emburrecedores da imprensa um terceiro: o pensamento politicamente correto, que, entre nós, veste a camiseta do petismo. Pronto. O desastre está consumado.
Falei até agora em tese. Dou exemplos. Reparem no silêncio da maior parte do jornalismo sobre a volta da censura prévia no país. Muito bem: alguns pretendem que o governo esteja apenas empenhado em fazer a classificação da programação, o que existiria em outros países. Diogo Mainardi tratou disso em sua coluna. Alguém se apressou em ler o tal manual do Ministério da Justiça, em que se confere uma pontuação para os programas? O texto, de maneira escandalosa, faz a apologia de valores que nada têm de técnicos, mas de ideológicos. A questão de fundo é a seguinte: achamos que devem ser as famílias a responder primordialmente pela educação moral de nossas crianças ou o Estado? O que vai ao ar na TV é matéria de interesse público também? Claro que sim. Mas o caminho democrático, liberal (a nossa imprensa acredita mesmo nos valores de uma sociedade livre?), é a auto-regulamentação, jamais a censura prévia. Diogo certamente continuará a tratar do assunto. E eu também. (Leia mais aqui).
Comentário deste blog: Gostaria de saber qual seria a opinião de Reinaldo Azevedo sobre a imprensa acreana.
quinta-feira, 17 de maio de 2007
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