Reinaldo Azevedo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estará na missa de logo mais na Igreja Matriz de São Bernardo. É a primeira vez em 26 anos que falta ao evento religioso do 1º de Maio. Em 1979, esteve presente. Em 1980, não pôde ir porque estava preso desde o dia 19 de abril. Foi representado por familiares. O acontecimento serviu como um ato de protesto contra o regime militar. No ano seguinte, ele estaria de volta. E nunca mais deixou de ir. Até este 2007. Desta vez, será representado pelo ministro da Previdência, Luiz Marinho, já lançado pré-candidato à Prefeitura de São Bernardo. Também é uma das figuras da República Sindical escaladas para chamamentos futuros. Alguns tentarão ver nisso alguma simbologia. Acho que tem. E não é aquela que está na superfície, mascarando o real significado.
Na superfície, poder-se-ia inferir que a ausência de Lula revela o descolamento do PT das causas populares — essa é a crítica que setores à esquerda (dentro da própria legenda) fazem ao partido. Lula teria se tornado um líder já sem esse traço sindical — “de classe” ele nunca foi. Besteira. A ausência do Babalorixá dá conta do poder petista, de como ele se consolidou e se tornou mainstream, dispensando mesmo os rituais de renovação de votos. Quem duvidar que veja a chamada regulamentação das centrais sindicais (leia abaixo). Com uma penada, o “ausente da missa” irá transferir a esses aparelhos nada modestos R$ 100 milhões. É um fatia do imposto sindical que fica com o governo — fora o que os sindicatos associados já lhes pagam.
O poder da República Sindical dispensa a presença de Lula em missas. Havia a fase em que ele comparecia como resistente, aquele que combatia o regime militar. Depois, era o militante do povo contra o “neoliberalismo” de FHC. Em seguida, veio o presidente que não renegava as suas origens. Agora, ele já pode descansar, dado que está em curso outra mitologia: o do salvador do planeta. Pode mandar pra lá um de seus cortesãos, um de seus arquiduques — a estrela da festa já iniciou a sua campanha para 2008. Em sua cidade-berço, é bom lembrar, o PT foi governo por míseros dois anos apenas, com Maurício Soares, que saiu do partido no curso do mandato. A cidade nunca quis saber do PT.
A ditadura ajudou o partido. Eu estava na missa de 1980. Helicópteros do Exército sobrevoavam a praça, e era possível ver a baioneta lá do chão, entre rezas e vaias. Pra quê? Pra nada. Mas aquilo tudo simulava um ato de coragem dos heróis que aí estão contra um bando de ditadores trapalhões. É claro que o resultado, 27 anos depois, haveria de ser uma pantomima.
terça-feira, 1 de maio de 2007
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